A senhora vai

A senhora

Chora na rua

Lágrimas secas

Escorrem pelas rugas torcidas da cara

Não temos troco

Cada uma espreita na sua carteira

Só notas de dez

Ela explica

A sua vida

Pensão abaixo da dignidade humana

À porta do restaurante

Penso

E se entrar rapidamente para trocar a nota

Não tem jeito

Jeito tem a mão da minha amiga

Estendida

Com uma nota de dez

É para medicamentos

Só preciso de cinco

Leve

Não faz mal

Verdade

E faz mal, sim

Nascer

Para depois depender da caridade

Expor a vulnerabilidade

A desconhecidos na rua

Justificar a existência

Através da necessidade

Entramos no restaurante

E a senhor vai

À sua vida

À nossa vida coletiva